O que é que as florestas significam para si? Como se beneficia da gestão florestal sustentável? Visitámos seis proprietários florestais privados na Lituânia, para encontrar respostas a estas questões. Todos eles são membros da ‘Darnūs Miškai’: a maior ONG da Lituânia que une os pequenos proprietários e o primeiro sistema de certificação de grupo FSC em grande escala no país.
Identidade
Chegamos a uma floresta escondida atrás da remota vila de Barsukinė. O bairro está repleto da voz de Antanas Tarvydas, proprietário e gestor florestal de longa data, na região de Samogícia.
Equipado com botas e um machado, ele gesticula enquanto caminhamos:
“A floresta é o meu modo de vida. Praticamente moro aqui. Só vou a casa para comer e dormir.”
Para ele, tudo continua como sempre: as florestas sempre definiram a vida das pessoas nesta região.
Foi difícil acompanhá-lo enquanto corre pelos matagais e por cima das anémonas, a flor do vento. Antanas trabalhou toda a sua vida na floresta, com exceção de dois dias. “Nos tempos soviéticos, trabalhei durante alguns dias numa quinta coletiva”, diz Antanas, recordando a ocupação soviética da Lituânia no período de 1940-1990. “Não aguentei e mudei para a silvicultura.”
Naquela época, a floresta ajudou-o e a muitos outros a manter a sua identidade: “Ainda havia um espírito lituano. Uma atitude diferente em relação às pessoas e uma relação de trabalho diferente”, afirma Antanas.
Hoje, a floresta faz avançar a sua vida. Como membro do sistema de certificação de grupo, ele gere as suas florestas de forma sustentável. Para Antanas, significa uma combinação de criatividade, conhecimento e ciência: “A adesão ao Darnūs Miškai inspira-me a esforçar-me mais. Sei que alguém me vai aconselhar, indicar uma direção diferente daquela a que estou acostumado.”
Meio de subsistência
Egidijus Zeleckis, um empresário e proprietário florestal de sucesso, encontra-nos num local de exploração florestal perto da cidade de Rietavas. Com uma aura de calma, ele sugere que o sigamos até ao local. “Crescer perto de uma floresta torna-a automaticamente parte da nossa vida”, diz ele, enquanto pisamos num chão de floresta cheio de musgo e semelhante a nuvens.
O aroma da seiva sobe às nossas cabeças. Egidijus aponta para uma máquina de exploração florestal solitária, que zumbe entre as árvores – o seu operador trabalha com a família de Egidijus há mais de 15 anos. Egidijus e o seu pai são prestadores de serviços florestais e proprietários de duas empresas florestais. Tudo se desenvolveu organicamente. “As florestas dos meus avós foram nacionalizadas. Quando as recuperámos, o meu pai e os seus amigos administraram-nas tão bem que outros começaram a pedir ajuda.” Hoje, as duas empresas empregam mais de 40 pessoas e contam com o que há de mais moderno em tecnologia no setor.
O certificado do grupo FSC permite ir ao encontro dos requisitos dos clientes, em termos de fornecimento sustentável.
“A norma do FSC é, até hoje, obrigatória. Sem ela, as atividades florestais provavelmente seriam impossíveis”, afirma Egidijus.
Como membro do Darnūs Miškai, também beneficia de menos trabalho administrativo. Isso permite que ele tenha mais tempo para se concentrar nas florestas. “Internamente, somos constantemente auditados. Isso ajuda-nos a dar atenção onde falta”, conta Egidijus, indicando o trabalho exemplar necessário para manter a certificação FSC.
Unidade
Trazendo o capuz do casado de chuva sobre os olhos, Lina Čiutaitė encontra-nos na sua floresta onírica, perto da cidade de Molėtai. Pinheiros e bétulas dão para um lago suavemente ondulado pela chuva. À medida que caminhamos em direção a ela, Lina conta-nos como a gestão florestal sustentável lhe proporcionou uma comunidade: “É ótimo estar num grupo com ideias semelhantes. Conheço pessoas simpáticas e bem informadas, com objetivos semelhantes aos meus”, diz ela sobre a sua filiação à Darnūs Miškai. Lina trabalha ativamente com outros membros da organização. “Visitamos e aprendemos com as florestas uns dos outros”, sorri. “Juntos, é muito mais simples.” O rosto de Lina ilumina-se quando ela nos conta sobre a sua ligação com ‘Aukštaitijos Šilas’, uma cooperativa de proprietários florestais. “Eles são o meu pilar, o meu conselheiro e o meu guia.”
A gestão florestal sustentável deu a Lina uma visão diferente da sociedade.
“É um caminho coletivo de consciencialização, principalmente quando se trata de biodiversidade”, diz ela, olhando para o lago. “Antes havia muitas atividades ilegais. Agora elas estão a desaparecer.”
O cuidado com as florestas vai além da comunidade florestal. Lina menciona um evento nacional de florestação – uma iniciativa pública anual para plantar florestas em todo o país. “Tornou-se uma iniciativa pública muito bonita. Estamos todos unidos pelas florestas”, diz a sorrir.
Ativo vivo
Nos arredores da cidade de Biržai, Miglė Lapėnaitė, proprietária florestal e doutoranda em antropologia, espera-nos calmamente enquanto atravessamos o orvalho da manhã. Atrás dela, uma parede de bétulas que resplandece num verde brilhante de primavera. Começa a chover, então corremos para baixo da cobertura. “Gosto de estar na floresta: o ar fresco, os sons”, sorri Miglė. “Esta relação entre a natureza e os humanos é muito importante.”
Enquanto a chuva escorre pela copa das árvores, Miglė mostra-nos o local:
“A floresta é um bem vivo. Ela precisa de ser mantida. Devemos cortar para rejuvenescer a floresta, replantar e deixá-la para o futuro.”
Apaixonada pela gestão florestal sustentável, Miglė procura frequentemente conselhos de Darnūs Miškai. Ela só os elogia: “Um dos principais benefícios do Darnūs Miškai é o feedback que recebo dos líderes do grupo. A comunicação é de alto nível.”
Um após o outro, ela cita os benefícios de ser membro: estar envolvido a nível global e crescer junto com todos, atender à procura da sustentabilidade, fazer parte de uma comunidade orientada para valores e ser capacitado. “Todos nós podemos contribuir. Quer seja um pequeno ou grande proprietário florestal, a contribuição de todos é importante para construir o futuro de uma gestão florestal sustentável”, afirma Miglė.
Amor
Uma estrada de gravilha leva-nos por antigas propriedades, perto da cidade de Panevėžys. Somos recebidos por Egidijus Karaveckas, um gestor e proprietário florestal de longa data. Ele aponta para a estrada: “Mudou a minha relação com os habitantes locais”.
Anos atrás, Egidijus pediu ajuda aos agricultores vizinhos. A estrada que partilham precisava de ser reparada para cumprir os requisitos do FSC. Toda a comunidade uniu-se: os agricultores forneceram pedras, o chefe florestal local trouxe gravilha e Egidijus alugou um camião e ajudou a construir a nova estrada. “Depois disso, tornamo-nos bons amigos de toda a comunidade”, diz Egidijus. “Sempre que estou com problemas, posso ligar para qualquer um deles e estarão prontos a ajudar.”
Egidijus conduz-nos a um local onde crescem jovens bétulas. Não há muito tempo atrás, esta era uma terra degradada e abandonada, agora restaurada por Egidijus e seus filhos. “Tudo está bem quando tudo está no seu lugar. Os animais, os humanos e a natureza são um só”, diz ele, apontando para algumas árvores numa antiga floresta atrás de nós, onde os seus filhos tinham um baloiço. “É disso que se trata o amor [pelas florestas].”
“As florestas fazem bem à alma”, diz Egidijus enquanto circulamos por entre as bétulas:
“Para se tornar um gestor florestal, é preciso amor e estudo. Deve-se amar cada árvore. Quando olha para uma árvore e tudo o que consegue ver é como explorá-la e quanto vai ganhar com isso, então pode trabalhar a vida toda, mas nunca se irá tornar num gestor florestal.”
Equilíbrio
Com roupas de estampado colorido, Lina Oginskienė traz a primavera para a sua floresta, na região de Švenčionys. O sol põe-se, enquanto ela e o marido nos levam para a floresta. Através da vegetação rasteira, entramos numa ilha de paz. “A floresta é um lugar para admirar, respirar ar puro e fugir do barulho. É meditativo. Pássaros, animais, cogumelos e frutas vermelhas – apenas benefícios!” sorri Lina.
Nas profundezas da floresta, os nossos pés afundam num tapete de musgo que envolve velhos pinheiros. Lina aponta para um grupo de pinheiros jovens à nossa frente:
“Como proprietária florestal, estou feliz que este negócio seja renovável. Ao explorar madeira, deve-se reflorestar e cuidar das novas árvores. É necessário pensar além dos seus ganhos económicos e considerar como as florestas beneficiam toda a sociedade.”
Lina agradece por ser membro do Darnūs Miškai:
“A maioria de nós pode registar e vender o produto. Mas quando se trata de equilibrar isto com os valores [ecológicos] e a preservação de tudo o que as florestas proporcionam, é aí que é necessário trabalhar. Darnūs Miškai faz um excelente trabalho ao fornecer todas estas informações.”
Ela diz-nos que Darnūs Miškai aproxima a sustentabilidade e a responsabilidade de todos os envolvidos: “Desta forma, as nossas gerações futuras também desfrutarão dos benefícios das florestas”.
Comunidade
“Para os proprietários florestais privados, as florestas são uma forma de vida harmoniosa”, afirma Deivis Pranckūnas, Diretor do Darnūs Miškai e nosso co-viajante nos últimos quatro dias. Refletimos sobre o trabalho de Darnūs Miškai, antes de nos separarmos numa estrada arenosa na floresta.
Criada em 2017, a ONG superou cada uma das suas ambiciosas metas. Liderado por Jovita Urbikaitė, o primeiro diretor da organização, Darnūs Miškai rapidamente se tornou a pedra angular da gestão florestal sustentável, na Lituânia.
Hoje, as florestas privadas certificadas pelo FSC são tão bem geridas, ou até melhor, do que as florestas estatais certificadas.
“Vemos progressos positivos nas nossas auditorias internas, especialmente no que diz respeito aos valores ecológicos”, afirma Deivis.
Ele e o seu colega Gintarė Stankevičienė realizam mais de 800 auditorias anualmente e são os principais contactos para todos os membros da ONG de gestão florestal sustentável.
“No início”, diz Deivis, “os proprietários florestais foram cautelosos em relação à nossa organização. Poderia ter parecido um resquício do antigo coletivo da era soviética.” Num país que recupera da ocupação, a ideia de cooperação ainda é vista com desconfiança. Mas os proprietários florestais privados estão a redescobrir os benefícios do trabalho conjunto. Através deles, a gestão florestal sustentável une o próprio tecido social.
Assista aos vídeos e saiba mais:
Gestores florestais cuidam das florestas- https://www.youtube.com/watch?v=tSsdjY-InrA
Jovens proprietários florestais - https://www.youtube.com/watch?v=hHfmKSJ57R0&t=7s
Certificação de grupo de pequenos produtores florestais - https://www.youtube.com/watch?v=AzMnZMAB-iU&t=12s
As florestas constroem comunidades - https://www.youtube.com/watch?v=UbACU80QuLA